Assim é Camilla: aquela pessoa que não sabe negar um pedido de ajuda, que respeita a história de cada um na mesma proporção que se doa por completo para apoiar todos que precisam dela. "As colocaria no vaso da maneira que cada ramo pede: mais a direita, a esquerda, respeitando sua inclinação", conta ela, que destaca ainda a resistência da flor. "No inverno, as tulipas aguentam baixas temperaturas e seguem lá, fortes, eretas", explica.
No seu arranjo, as flores também seriam coloridas, com cor-de-rosa, pink, alaranjada, lilás, amarela… Porque cores são sinônimo de alegria. E foram elas que fizeram Camilla encará-las com paixão pela primeira vez quando ainda era criança.
Caçula da família composta por outros dois meninos mais velhos, a florista carrega no DNA a história de sua família. Seu pai é filho de sírios que chegaram ao Brasil com a roupa do corpo, e sua mãe é uma italiana que chegou em terras tupiniquins na adolescência para ajudar um tio confeiteiro.
O destino tratou de unir ambos: "minha mãe foi trabalhar como vitrinista na loja do meu pai. Os dois se apaixonaram, namoraram por sete anos e se casaram em 1969. Meu irmão mais velho veio em 1969, o do meio em 1975 e eu em 1977", lembra.
Calma e estudiosa, Camilla frequentou a escola de freiras para mulheres, fez magistério e se formou em Educação Infantil e Fundamental I. Convidada para assumir a sala de aula, apaixonou-se perdidamente pelo ato de ensinar. Ali era o seu lugar. Trabalhando como professora, fez pedagogia e, mais tarde, psicologia. "Sempre fui da área da educação. Amo trabalhar com crianças e adolescentes", conta Camilla.
Na época morando em São Paulo, conheceu seu marido, André, em meados de 2001. Para cuidar dos negócios do pai, dono da construtora Fausi & Cezario, que tem quase 70 anos de história em Campos do Jordão, ele sugeriu a mudança para a cidade valeparaibana. Apaixonada, encarou a nova terra, o frio e logo se encontrou no local.
Casou-se em 2003 e, em 2004, passou a trabalhar no Colégio Objetivo de Campos como professora do segundo ao quinto ano do Fundamental I. Em 2005 veio Mário, seu primogênito, e em 2008, Pedro, seu caçula.
"Como em São Paulo eu era coordenadora da classe de matemática, assumi aqui as aulas de matemática das turmas de 6º a 8º anos do Fundamental II. Foi quando cursei também matemática", disse Camilla.
Em 2019, como coordenadora no colégio viu que era hora de mudar de ares e encarar novos desafios. Lembrou-se, então, que na infância sempre via sua mãe decorando a casa com flores. "Eu adorava quando ela comprava flores no mercado, na feira e chegava em casa distribuindo-as nos vasos de cristal. O ambiente ficava muito mais alegre, colorido e isso me tocava", recorda.
Herdeira do capricho e zelo da mãe, Camilla sempre gostou de ter flores em casa. "Chegava a levar até para o serviço! Eu falava para o dono do colégio: 'vamos colocar vasos de flor na entrada da escola para receber os alunos?' e lá ia eu com meus arranjos", ri lembrando.
Mas aquilo, que até então era paixão, só começou a virar profissão em 2019, quando ela pôde fazer um curso de florista com a arquiteta e decoradora Taís Puntel, até hoje sua mentora. "Mais do que me encantar, eu me encontrei no curso. Me identifiquei com o jeito dela e me interessei pelos conceitos por trás da criação de arranjos e os eventos grandiosos que ela faz em todo Brasil", explica.
O encontro com cerca de 30 pessoas marcou Camilla Abduch. Na ocasião, ela ganhou, via sorteio, um arranjo e na hora de dar o buquê, Tais montou uma dinâmica em que todos os participantes se colocaram em formato de círculo na sala e ela ia esbarrando o buquê na mão de todos os presentes. Camilla percebeu a aproximação da arquiteta e posicionou a mão de forma a encostar no buquê. O ganhou! "Chorei muito, foi muito emocionante!", conta.
Camilla fez, então, cursos na área no Brasil e no exterior. "Fui para o Peru em um curso da Tais para saber se as bases são parecidas com a criação de arranjos no Brasil. Mas nessa época ainda não trabalhava oficialmente com arte floral, estava mais especulando o mercado", diz. Até que, em 2020, a pandemia chegou, e para fugir de uma depressão que a pegou de surpresa, ela passou a ocupar a mente com mais conhecimento. "Fiz todos os cursos on-line: assinatura floral, buquê, backdrop, flores desidratadas, montagem de eventos, aéreos…", explica a artista floral.
Durante a pandemia, Camilla já começou a vender arranjos florais e fazer assinaturas residenciais. "As pessoas ficavam mais em casa e queriam um ambiente florido", conta.
Emoção
Hoje Camilla Abduch é sinônimo de arte floral em Campos do Jordão. É através de sua marca que ela leva sua paixão pelas flores por meio de um clube de assinatura, em que a cada 15 dias, efetua a troca de arranjos na casa e/ou empresa de seus clientes; cria arranjos para datas especiais e atua como decoradora de eventos.
Emotiva, ela gosta de trabalhar com os sentimentos das pessoas: encantar e surpreender. "Não sou decoradora simplesmente por ser, nem busco quantidade de clientes. Prezo pela qualidade e gosto de marcar a vida daqueles que me procuram, sejam noivos, aniversariantes. São arranjos sempre carregados de história, cada flor tem o porquê de estar naquele lugar", afirma.
Seus clientes estão principalmente no Norte e Nordeste, também em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Seu diferencial é a troca com o cliente até a entrega final. Em compensação, todo final de festa é como um luto. "Às vezes, choro pensando que tudo aquilo que foi construído ao longo de meses, acaba em poucas horas", diz ela, que não tem uma quantidade de festas certas por mês. "Tento marcar uma por final de semana para poder atender de forma plena. Mas já cheguei a fazer mais de uma e montar uma festa inteira em 20 dias! Tenho um coração enorme, não consigo falar não a um pedido de ajuda de uma noiva, por exemplo. Acabo aceitando ainda que em cima da hora", explica.
Desapegar das flores usadas também é uma difícil missão. Sorte de igrejas e asilos. São eles que recebem as flores usadas nos eventos. "Não consigo jogar fora. E não faz sentido reaproveitar, uma vez que cada festa é única e deve ter a cara do cliente. Então faço a doação".
Para se manter em alta e antenada, Camilla se atualiza sempre e está constantemente renovando seu acervo de peças. "Faço de quatro a cinco cursos por ano e vou a feiras e eventos. Tais despertou o desejo de trabalhar na área, me ensinou, me ajudou a descobrir minha identidade floral e me apoia até hoje com orientações e indicações. Porque as técnicas mudam, aparecem novas espécies… Então, preciso estar atenta", detalha Camilla.
A artista floral conta também com uma equipe formada por ela. São meninas que não sabiam nada sobre flores e aceitaram o desafio de aprender. "Hoje elas fazem arranjos, às vezes, mais bonitos que os meus", conta Camilla orgulhosa. "Somos uma grande família. Sou chefe, mas levo sempre em conta que são elas que estão comigo na madrugada, nos eventos, compartilhamos tristezas, alegrias e cansaços".
Se ela sente saudade da sala de aula? "Muita!", crava. Mas planos futuros já incluem a garotada. "Penso em fazer workshops e cursos para transmitir meu conhecimento. Quero ensinar as crianças a montarem arranjos. Estar próximo delas é como um combustível para mim. Me faz muito bem".
"Não quero deixar de atender minhas noivas. Gosto e me faz muito bem. Mas quero aproveitar meu dom de ensinar para disseminar a arte floral", conclui Camilla, que, como uma tulipa, segue com sua delicadeza resistindo, colorindo, alegrando e, principalmente, florindo o mundo.