Page 84 - ELAS
P. 84
Aos 38 anos, recém-separada e da montanha. Quando estamos lá
com dois filhos, descobriu um cân- em cima, todo mundo te quer por
cer grau 4 com metástase. Foram Cada mulher que perto, mas o contrário não é verda-
cirurgias e quimioterapia. Em sua deiro. Foi nesse momento que fez
família não tinha histórico de câncer vai ser fotografada uma imersão de autoconhecimen-
e, em razão disso, ficou com muito to, se descobriu e fez a grande vira-
medo de que não pudesse realizar da em sua vida: decidiu que viveria
seus sonhos. chega como uma tela da fotografia.
Bom, foi aí, quando a sua vida Aos poucos voltou a ter foco, se
parou, que deu conta da finitude em branco a ser conectou e se reconectou com as
dela. Ela que já tinha trabalhado em pessoas. Mesmo tendo um de seus
hospitais e tinha especialização em maiores medos os desafios de uma
psicologia hospitalar, viu-se do ou- pintada e, então, vida profissional como autônoma,
tro lado, virou paciente. Estava to- desde o dia em que abriu a sua
talmente fragilizada e vulnerável. JUNTAS fazem a agenda, nunca mais ficou sem clien-
Mas essa fragilidade durou pou- te! Acreditou no seu trabalho, viveu
co. Depois de digerir a notícia, lutou ARTE acontecer. seu propósito e suportou o processo,
bravamente durante todo o trata- não tendo como não colher os frutos
mento, encarou a doença, agarrou de seu esforço.
em sua fé e fez tudo que tinha que Obviamente, passou por inúme-
ser feito. Nunca questionou a Deus ras provações na fotografia. Fotogra-
o que estava passando. Pedia discer- suas irmãs, fotógrafa já renomada fou de tudo, trabalhou com poucos
nimento e repetia inúmeras vezes, em Goiânia, a incentivou a fazer recursos, mas a criatividade e aquela
principalmente nos momentos mais um curso de fotografia. Deu-lhe a veia artística que sempre pulsaram
difíceis (de quimioterapias, cirurgias melhor câmera e o melhor curso, e dentro dela, fizeram-na ser notada,
e internações): “Tudo posso Naquele lá foi ela... seja em Taubaté ou Goiânia – locais
que me fortalece.” Mesmo doente não conseguia fi- em que fotografa.
E de fato sua fé a fortaleceu. Sua car parada. Fez o curso mais como Hoje possui o seu estúdio e bons
vida mudou, se transformou e dei- terapia, porém, como tudo que se equipamentos, frutos de muito tra-
xou-se ser transformada. Karin res- propõe a fazer, se jogou de cabeça. balho, além de ter um estilo foto-
salta que nada disso teria acontecido Assim que se descobriu cem por gráfico muito bem definido: revelar
se não tivesse pessoas tão maravi- cento curada, precisava voltar para a verdadeira essência das mulheres
lhosas ao seu lado: sua família, sua Taubaté, afinal tinha deixado o em- por meio da fotografia. Especialista e
segunda mãe, que a acompanhou prego e precisava retomar de onde apaixonada pelo universo feminino,
durante todo o tratamento, amigos e parou. Foi aí que percebeu que já ela consegue através do seu traba-
todos os médicos e profissionais da não era mais a mesma. Pediu de- lho conhecer pessoas e histórias de
saúde. Acredita que viveu um mila- missão de seu emprego e decidiu vida extraordinárias – registrando
gre, e que Deus permitiu que tivesse que precisava colocar algumas coi- sempre com o melhor ângulo o que
uma segunda chance para viver o sas no lugar. tem de mais belo e o que, às vezes,
melhor que ainda estava por vir. Aprendeu que o fundo do poço não é visível aos olhos.
Durante o tratamento, uma de ensina muito mais do que o topo Cada mulher que vai ser fotogra-
82 ELAS | BIOGRAFIA