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flores para colorir
o cotidiano
Camilla Abduch
T roupa do corpo, e sua mãe é uma italiana do Fundamental I. Em 2005 veio Mário, seu
“ odo arranjo conta uma história”. filho de sírios que chegaram ao Brasil com a como professora do segundo ao quinto ano
Esta é a máxima de Camilla Abdu-
primogênito, e em 2008, Pedro, seu caçula.
ch, artista floral, moradora de Cam-
que chegou em terras tupiniquins na adoles-
“Como em São Paulo eu era coordena-
pos do Jordão (SP). Aliás, se pudesse
criar um arranjo que representasse sua histó- cência para ajudar um tio confeiteiro. dora da classe de matemática, assumi aqui
O destino tratou de unir ambos: “minha
ria de vida, ele certamente estaria numa box mãe foi trabalhar como vitrinista na loja do as aulas de matemática das turmas de 6º a
flower com sua marca e teriam tulipas, flores meu pai. Os dois se apaixonaram, namora- 8º anos do Fundamental II. Foi quando cur-
delicadas e, ao mesmo tempo, resistentes e ram por sete anos e se casaram em 1969. sei também matemática”, disse Camilla.
imponentes. É que elas representam o amor Meu irmão mais velho veio em 1969, o do Em 2019, como coordenadora no co-
perfeito. Não aquele de homem e mulher, meio em 1975 e eu em 1977”, lembra. légio viu que era hora de mudar de ares e
mas o amor pela vida, amor ao próximo. Calma e estudiosa, Camilla frequentou encarar novos desafios. Lembrou-se, então,
Assim é Camilla: aquela pessoa que a escola de freiras para mulheres, fez ma- que na infância sempre via sua mãe deco-
não sabe negar um pedido de ajuda, que gistério e se formou em Educação Infantil e rando a casa com flores. “Eu adorava quan-
respeita a história de cada um na mesma Fundamental I. Convidada para assumir a do ela comprava flores no mercado, na feira
proporção que se doa por completo para sala de aula, apaixonou-se perdidamente e chegava em casa distribuindo-as nos vasos
apoiar todos que precisam dela. “As colo- pelo ato de ensinar. Ali era o seu lugar. Tra- de cristal. O ambiente ficava muito mais ale-
caria no vaso da maneira que cada ramo balhando como professora, fez pedagogia e, gre, colorido e isso me tocava”, recorda.
pede: mais a direita, a esquerda, respeitan- mais tarde, psicologia. “Sempre fui da área Herdeira do capricho e zelo da mãe, Ca-
do sua inclinação”, conta ela, que destaca da educação. Amo trabalhar com crianças e milla sempre gostou de ter flores em casa.
ainda a resistência da flor. “No inverno, as adolescentes”, conta Camilla. “Chegava a levar até para o serviço! Eu fala-
tulipas aguentam baixas temperaturas e se- Na época morando em São Paulo, co- va para o dono do colégio: ‘vamos colocar
guem lá, fortes, eretas”, explica. nheceu seu marido, André, em meados de vasos de flor na entrada da escola para rece-
No seu arranjo, as flores também seriam 2001. Para cuidar dos negócios do pai, ber os alunos?’ e lá ia eu com meus arran-
coloridas, com cor-de-rosa, pink, alaranja- dono da construtora Fausi & Cezario, que jos”, ri lembrando.
da, lilás, amarela… Porque cores são sinô- tem quase 70 anos de história em Cam- Mas aquilo, que até então era paixão,
nimo de alegria. E foram elas que fizeram pos do Jordão, ele sugeriu a mudança só começou a virar profissão em 2019,
Camilla encará-las com paixão pela primeira para a cidade valeparaibana. Apaixona- quando ela pôde fazer um curso de florista
vez quando ainda era criança. da, encarou a nova terra, o frio e logo se com a arquiteta e decoradora Taís Puntel,
Caçula da família composta por outros encontrou no local. até hoje sua mentora. “Mais do que me en-
dois meninos mais velhos, a florista carrega Casou-se em 2003 e, em 2004, passou cantar, eu me encontrei no curso. Me identi-
no DNA a história de sua família. Seu pai é a trabalhar no Colégio Objetivo de Campos fiquei com o jeito dela e me interessei pelos
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