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“Fui conquistando a confiança dos meus   faculdade mesmo quando me mudei para o
            clientes, de gerentes de outras concessioná-  litoral, cursei turismo em uma instituição em
            rias. Eles me passavam carros na certeza de   Caraguatatuba”.
            que receberiam o pagamento. Era uma épo-      Fez também curso normal, voltado para       “TIVE QUE CRESCER
            ca que se honravam os bigodes. Se alguém   professores do ensino fundamental, e focou
            dava a palavra, tinha que cumprir”, afirma.  em concursos públicos. Passou em segundo
               Começou então a ajudar, agora finan-    lugar, na sequência foi trabalhar como secre-  MUITO CEDO. COMECEI A
            ceiramente, a mãe e as irmãs. E, com o     taria da diretoria. Trabalhou em várias fren-
            divórcio de seus pais, trouxe as mulheres   tes, passando pela secretaria de obras, onde   CUIDAR DA CASA E AJU-
            da família para seu apartamento em São     se especializou em administração pública,
            Paulo: a mãe, a irmã doente e a caçula     gestão em direito ambiental, auditoria. Foi   DAR MINHAS OUTRAS
            com seu sobrinho.                          aluna especial na Faculdade de Saúde Pú-
               Casou, engravidou e teve seu primeiro   blica da USP e cursou o Gerente de Cidades
            filho (Pedro, 35 anos). “Eu era comissionada   na FAAP.                                 IRMÃS EM TUDO O QUE
            quando meu filho nasceu. Trabalhei na sexta   Tornou-se secretária de turismo de Ilha-
            e meu filho nasceu sábado”, contou ela que   bela entre 2008 e 2011. “Eu era ‘expert’ em   ELAS PRECISASSEM.
            hoje é mãe também de Bruno, 25 anos, e     buscar recurso público para fazer meus pro-
            Mariana, 23 anos. Na ocasião do nascimen-  jetos. Na época a prefeitura não tinha dinhei-
            to de Pedro, foi também mãe de leite de um   ro e era tudo mais difícil. Onde tivesse uma   QUERIA QUE NOSSA CASA
            menino, filho adotivo de um casal vizinho da   forma de fazer parceria com a iniciativa pri-
            concessionária. “Eles me pediram para ama-  vada e recursos à fundo perdido no governo   FOSSE ANTES DE TUDO
            mentar o filho deles e foi uma alegria poder   Estadual e Federal eu tentava. Levava tudo
            ajudar. Temos contato até hoje”.           muito a sério, os objetivos do projeto, o que   UM LAR.  E ME ESFORCEI
               Sua irmã doente faleceu aos 21 anos e   ele poderia gerar de emprego e renda para
            logo veio o seu próprio divórcio. Para se dis-  a população, as capacitações que podíamos
            trair, passou a vir com seu filho para Ilhabela   oferecer, os eventos e, claro, a prestação de   PARA ISSO”
            para passear. Foi amor à primeira vista, se   contas”, afirma.
            apaixonou pela cidade. “Um dia vou morar       O projeto que se lembra com mais ca-
            aqui”, pensou. Alugou um imóvel e passou a   rinho foi o de saneamento ambiental para
            vir religiosamente todos os finais de semana.  Bonete. “Dei o meu melhor. Prestei conta em
                Em cinco anos de idas e vindas, co-    detalhes de todo o período com Secretaria   rinha com cardumes de peixes, tartarugas e
            nheceu aquele que se tornaria seu segun-   de Turismo, inclusive centavos. Tudo justi-  arraias; e um rooftop, ambiente glamoroso
            do marido, caiçara da ilha. Viu que era    ficado. Acho que fui a única que fez isso!   com decorações que valorizam a feminilida-
            hora de se mudar em definitivo para a      Dormia todos os dias em paz. Me exonerei   de e de onde pode-se ver a ilha, observando
            cidade. “Eu tinha tentado fazer faculdade   na ocasião do meu segundo divórcio”, con-  seus moradores e o cotidiano dos pescado-
            em São Paulo de Serviço Social, na PUC     ta a empresária, que na época realizou um   res e as aves marinhas ávidas por um descui-
            em 1982, mas  desisti  no segundo ano.     segundo sonho: montar uma casa para sua   do destes.
            Era muito caro e a faculdade fervilhava    mãe, agora em Ilhabela.                      Montado na pandemia, o Makai teve
            com o movimento político da época. Lem-       Com a saída do funcionalismo público,   de  ser adaptado  para lidar com  as ad-
            bro de estar numa conferência de políti-   Djane, com sua visão empreendedora, se    versidades impostas durante o período
            cos da esquerda na época com Roberto       voltou à sua paixão de infância: a gastro-  de distanciamento  social. As estratégias
            Freire, Aldo Rebelo,  Paulo Freire, Eduar-  nomia. Makai é o nome do seu restaurante   de Djane deram certo. Hoje, queridinho
            do Suplicy e um metalúrgico (que vinha     localizado no píer mais famoso de Ilhabela.   da cidade, o restaurante conta ainda com
            como promessa na mesma linha de Lech       Inspirada em lugares turísticos que conheceu   playlist planejada, iluminação intimista,
            Walesa, ativista polonês), o nome dele to-  em suas viagens, a casa é um espaço único.  mobiliário e decoração para criar um am-
            dos conheceriam Lula. Logo depois o Tea-      Dividido em dois ambientes, Makai tem   biente ainda mais encantador e agradável
            tro da PUC, TUCA foi incendiado. Fui fazer   um deck, onde é possível ver toda a vida ma-  e tornou-se um espaço de fotos, além,



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